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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

VALE A PENA FAZER PERGUNTAS?


À primeira vista, falar de filosofia parece uma prática totalmente inútil. Afinal de contas – você perguntaria – porque refletir acerca de elementos abstratos, como amizade, verdade, justiça, liberdade, moralidade, etc.? Vale a pena fazer perguntas sobre questões como essas e tantas outras que envolvem o universo amplo da filosofia? Refletir implica em gastar tempo. E tempo, no universo dominado pela selvageria do capital, é dinheiro. Quem, portanto, se daria ao privilégio tomar tempo para refletir sobre questões tão simples como essas. Viver e praticar não seriam suficientes? E ainda: qual a utilidade de teorias, conceitos e abstrações?

Primeiro, é preciso dizer que o princípio de fazer perguntas sobre o que é o mundo, e sobre o que é cada coisa do mundo, é bem antigo. Os filósofos anteriores a Sócrates já faziam essas perguntas. O próprio Sócrates na sua maiêutica, faz compreender que cada coisa no mundo tem que primeiro ser gestada por meio das idéias para depois serem paridas. A maiêutica socrática consiste de dois aspectos. O primeiro refere-se “as dores de parto” onde, partindo do princípio de que nada sabe, leva o interlocutor a apresentar suas opiniões para, em seguida, fazê-lo perceber sua própria ignorância. Mas isso não é o bastante. Para chegar à verdade é preciso que haja o “parto das idéias” (a maiêutica), momento em que o interlocutor, por meio de sucessivas aproximações chega à verdade. É o resultado da inquietação filosófica. É isso mesmo! A inquietação filosófica gesta e trás à luz as idéias, e estas, põe nosso mundo em movimento. Desse modo, é dever fazer perguntas, até sobre as nossas certezas. Afinal de contas, o conhecimento jamais será algo pronto. E o modo de empreender a análise apropriada dos pensamentos é por meio do diálogo – literalmente através do logos, da palavra em movimento. Logos aí não se refere a um vocábulo estático, permanente, e pronto para uso, como nos fazem crer os gramáticos. É mais que isso. Trata-se da possibilidade quase infinita de dialogar com o mundo. Trata-se de voltar à raiz dos conceitos, ao fundamento de cada coisa, situação ou problema. Trata-se de questionar o próprio mundo e obter respostas que levem a novos questionamentos, num devir incessante. Assim, não obstante seja possível viver sem questionar os reais fundamentos do mundo, dos valores, das crenças e de tudo mais que envolve o nosso dia-a-dia, é preciso dizer que, fazer perguntas, tanto nos transforma como provoca transformação no mundo. Assim como no livro “O pequeno Príncipe” (do autor francês Saint-Exúpery), simples perguntas, podem levar a amplas reflexões sobre o sentido daquilo que já está estabelecido como verdade em nós, e gerar grandes transformações. O problema é que estamos ocupados demais com nosso universo particular. Mas, bastam pequenos momentos de quietude e reflexão para que o novo se apresente e tudo ao nosso redor se transforme. O próprio deserto já não será o mesmo, pois ele esconde uma fonte ainda oculta para a maioria. Ao refletir, aquilo que parecia desinteressante e fútil ganha novo valor, até mesmo um insignificante planeta escondido em algum canto do universo. Crenças e valores ganham novos contornos. A vida, como uma flor cultivada e cativada, ressurgirá de repente como a poesia. Ressurgirá também com poesia, musica e alegria. Então, ver-se-á, sem muito esforço, que a vida tem um requinte de todos esses elementos. Dissociá-los um do outro implica em extinguir não somente a vida, mas a própria razão de viver.

Aprender a refletir, a fazer perguntas sobre o que pensamos ser certo ou errado, bem ou mal, lícito ou ilícito, bom ou mau, verdadeiro ou falso, belo ou feio, etc., é de um valor inestimável. Torna-nos capazes de não crer no imediato; de não aceitar aquilo que nos é dado como pronto, útil e indispensável. Torna-nos capazes de decisões mais sensatas. Gera saudável ponderação diante das questões que nos são postas pelos sistemas do mundo. Conscientiza-nos da necessidade de constante transformação e estar aberto para mudanças sempre surpreendentes. Então, vale a pena fazer perguntas? Vale a pena buscar respostas? Pelas razões exposta aqui e por tantas outras que você mesmo descobrirá, parece que sim. Então, comece já a sua própria jornada.

Riba Ericeira Sousa

Pastor e professor. Fomado em Filsofia pela UFMA